26 de novembro de 2020

Marialva - 490 Km's em 12 Horas

Marialva/ Civitas Aravorum

490 Km's em 12 Horas

Esta foi a primeira viagem que fizemos a Marialva.

À meia noite de um dia qualquer de Março vimos tantas estrelas no céu que decidimos ir dar uma voltinha no dia seguinte. Consultamos mapas e pontos de interesse, para irmos a um sítio que fosse novo para nós, até que finalmente decidimos o destino e fomos dormir, às 3h da manhã!!...

Acordamos às 7h e saímos de casa às 8h. (Dormimos 4h lol) Fomos procurar uma bomba de gasolina para encher o pneu de trás mas a bomba tinha a máquina do ar avariada (típico), procuramos outra mas estava vedada com obras, na terceira a máquina do ar não estava a contar bem, até que finalmente lá demos com a quarta a funcionar e enchemos o pneu e o depósito…

Seguimos pela N222 desde Gaia em direcção à barragem de Crestuma, estava um nevoeiro daqueles… e como quase não víamos as luzes dos semáforos à frente do nariz, nem os carros nos cruzamentos, lá tivemos que seguir a uns 60Km/h... Mas pronto com nevoeiro e tudo, passamos a barragem e seguimos pela N108, as famosas curvas :P

Chegados a Entre-os-Rios, atravessamos o rio Douro para Ribadouro e paramos para lanchar uns pães com nutella :p

Uns minutos depois decidimos continuar, e o nevoeiro também!! Não nos largou! lol Eram só curvas. Passamos por Porto Manso, Porto Antigo e Caldas de Aregos, onde vimos a linha do comboio a contornar o rio mesmo à beira-rio, espectacular.

Finalmente, conforme subíamos o nevoeiro foi desaparecendo e começamos a ver o Sol, eram 12h30 já, e foi quando nos deparamos com a paisagem espectacular do cimo das montanhas, só se viam nuvens abaixo de nós, entre as montanhas, nos vales e planícies, estávamos acima das nuvens :D

Ainda na N222, passamos por Resende e Lamego e aí mudamos para a N226, passando em Moimenta da Beira e virando para a N229 para Sernancelhe. Vimos umas aldeias antigas e uma albufeira, para além das paisagens fantásticas e das estradas alcatroadas e sem buracos. Incrível mesmo, em centenas de kms de curvas, em sítios completamente despovoados e as estradas eram 5 estrelas!

Almoçamos as nossas sandes caseiras e continuamos pela N229.

Penedono

Chegamos a Penedono. Uma aldeia linda com um ambiente respirável e harmonioso, tão calmo que até podíamos pegar num monte de feno e fazer a cama mesmo ali no meio das estradinhas e vielas e contemplar o sossego. 

Além disso, vi lá uma coisa que nunca tinha visto antes, um Cine à moda antiga, no andar de cima duma grande casa em pedra; e reparamos que além de passarem filmes, também fazem palestras sobre assuntos do nosso quotidiano. Para além de tudo isto, tem um castelo muito bonito!

Montamos a mota e seguimos para a N331 para Meda por entre as longas rectas e curvas.

Ali, em cima da mota, a sensação de liberdade e de paz eram indescritíveis... Nunca mais esquecerei aquela sensação, foi a primeira vez que desejei ficar por ali, longe de tudo até nos cansarmos... O Sol estava quente, víamos pássaros, corvos, águias, borboletas ao lado da estrada, nas planícies e no alto, as estradas estavam vazias e alegres, só se ouvia o eco dos nossos pensamentos, e do GPS durante alguns kms… hehe 

Marialva

Finalmente, depois de desviarmos para a N324, uns kms à frente, chegamos ao “destino 2” e o principal, Marialva. Uma aldeia medieval dentro das muralhas de um castelo, repovoada por D. Afonso Henriques, em meados do século XI. Julga-se que tenha sido fundada pelos Túrdulos, cerca de dois mil anos antes de Cristo, contudo por falta de estudos arqueológicos é difícil precisar as verdadeiras origens. Sabe-se no entanto que aqui existiu uma cidade romana de nome civitas aravorum, Séc.I, devido aos inúmeros achados romanos espalhados por aqui e à descoberta de duas importantes inscrições latinas, uma delas ao Imperador romano Adriano no ano 179 d.C. e outra ao deus Júpiter. (Fantástico hein?!)

Eu sabia que ía ver algo que nunca tinha visto, talvez bonito ou triste, mas foi mais que isso... Mal entrei na muralha do Castelo e vi aquela aldeia, senti que uma parte de mim lhe pertencia, o vento estava quente e transportava-me para um tempo que não fora o meu, enchendo-me com saudades que não me pertenciam...

Em todas as janelas víamos histórias deixadas para trás, arrancadas a quem lhes pertencera... Por algum motivo a vontade era ficar lá até o tempo não ser tempo… Por mais que caminhássemos e espreitássemos cada uma daquelas casinhas, sabíamos que cada pedra, cada fenda, cada pequeno bocadinho, tinha uma gargalhada, uma lágrima, um sorriso, uma história, de tantos povos e vidas, completamente esquecidos e que jamais iríamos conhecer...

Além disso, foi estarmos naquele sítio tão aconchegante, tão antigo e ao mesmo tempo tão presente, onde viveram os avós de alguém, ainda neste século vizinho, mas que se viram forçados a sair das suas casas e repovoar fora da muralha, deixando os seus pedaços de história ali dentro, sentirmos a sua grandiosidade, no espaço, no tempo, na cultura, a ultrapassar a nossa imaginação...

Depois destes momentos inesquecíveis tivemos que “fazer as malas” e voltar para casa, não sem antes nos despedirmos do Zequinha, um cão castanho que estava em frente às muralhas a apanhar Sol e a quem dão o nome de Zeca :D Conhecemos também a gata Anis da segunda vez que lá voltamos com chapinha com nome e contacto e também dali de Marialva.

Seguimos pela N102 em direcção a Trancoso, demos umas voltas por lá, abastecemos a mota e seguimos caminho pela, N226 e N229.

Passamos por Rio de Mel, embora não se visse abelhas nem mel por lá, Vila Nova de Paiva, Satão e Viseu.

Paramos em Viseu para um café EXTRA FORTE pois o piloto já estava a adormecer em cima da mota… Assim que o café fez efeito, fomos embora de Viseu, mas mesmo assim continuamos pela nacional e pelas curvas.

Passamos em Vouzela, Sever do Vouga e paramos em Vale de Cambra, visto que eu já tinha adormecido umas 4 vezes e uma das vezes até vi estrelas por acordar numa curva toda deitada… Eu a dormir e a sonhar com coelhinhos e o piloto agarrado aos punhos todo energético, a tentar raspar a peseira certamente… Ou isso ou estava a sonhar que estava no MotoGP hehehe Mas como eu dizia, paramos em Vale de Cambra, sentamo-nos num banco de jardim, eram para aí 20h, já noite, descansamos um bocado, olhamos prós cisnes a nadar, comemos mais uns pães com nutella :D e assim que passou o sono fomos embora e só voltamos a parar em casa :D

Percurso Completo no Google Maps

Marialva - Castelos das Beiras

Castelo de Marialva

 

9 de novembro de 2020

Cabreia, um Mundo à Margem

 

Num passeio mais ou menos planeado, com alguma investigação antecipada, porque eu gosto de ir a lugares perdidos da civilização, ou com história, descobri um mundo totalmente à margem do que imaginava que seria. Fiquei encantada. Não tem rede de telemóvel. É verdade que primeiro fiquei um bocado apreensiva, porque alguém podia precisar de mim =D mas tentei relaxar e em poucos minutos comecei a sentir-me... livre! Como se tivesse ficado com menos peso em cima de mim, o peso das preocupações banais, o peso da antecipação, o peso da sensação de que dependemos daquele aparelho para tudo. Uns minutos depois senti-me mesmo bem, como se de repente até fosse mais fácil inspirar, é bom não ter rede no telemóvel de vez em quando, também faz bem podermos parar, olhar para nós, pensar em nós, dar-nos a oportunidade de apreciar o mundo à nossa volta, relaxar, observar sem ter que pensar em nada. E eu não sou uma pessoa de andar agarrada ao telemóvel, só o uso para receber chamadas, para ler os vossos blogues nas noites livres, e, de vez em quando, ouvir música na rua...

Então seguimos do Porto em direção a Sever do Vouga até à mítica ponte do Poço de São Tiago, a qual eu subi pela primeira vez, e cheia de medo, porque não sou muito "equilibrista" em altitudes. Valeu a pena o tremelique das pernas, porque a vista de cima é estonteante! Além disso, agora fizeram também ali a Ecopista do Vouga, precisamente onde era a antiga linha ferroviária do "Vouguinha", comboio a vapor, acompanhando o rio durante mais de  11Km e atravessando os antigos túneis ao longo do vale. A estação de comboio de Paradela é agora um café do Ecopark.(Como veem há muito coisa que pode ser aproveitada em Portugal com alguma inteligência, como é este caso, em vez de abandonada)


Depois da paragem na Ponte de São Tiago, seguimos em direção a Ribeira de Fráguas. Todo o caminho é lindíssimo, o rio Vouga ao lado. Chegados ao destino, ao ver ali tanta natureza, decidimos improvisar e em vez de comermos num restaurante, fomos buscar duas sandes ao Café Minimercado Benchick e levámo-las para o Parque. O almoço foi no sítio que tinha planeado ver, mas que estava longe de imaginar que seria assim. Os habitantes, disse-me um deles, construíram o Parque de Merendas de Ribeira de Fráguas para terem um sítio ao ar livre onde fazerem piqueniques aos domingos. Está fantástico como poderão ver pelas fotos.


Depois rumamos a Silva Escura para espreitar a Cascata da Cabreia.
Foi qualquer coisa de transcendente, uma surpresa total, o sítio em si parecia surreal. Tem imensas quedas de água, um ribeiro muito bonito, límpido, transparente, vários percursos, alguns com proteções ao longo do riacho e pequenas pontes. É lindo, puro, só se ouve a natureza, os pássaros, a água, as folhas das árvores. E, naquele cenário divinal, fizeram uma mesa em pedra que encaixa no riacho, junto à cascata, é inspirador, uma mesa perfeita!

 
 
 
No meio disto tudo, demos com estradas espectaculares. Piso excelente, algumas acabadinhas de alcatroar, largas e com excelentes curvas, principalmente na M554 entre Ribeira de Fráguas e Felgares <3
 
 
Desvio para a Cabreia:

 


 
 
 
 
 
 
 
 
 
Boas Curvas!

Alguns links com mais informação: